12/10/2008

A IMPORTANCIA DA ADOÇÃO DE TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS INDUSTRIAS DO SEC. XXI

Revista Ação Ambiental entrevista o Gerente de Meio Ambiente do Sistema FIEMG, Wagner Soares Costa, Engenheiro Agrônomo, com especialização em Produção Mais Limpa, pós-graduação em Gestão Ambiental. Professor de Planejamento e Gestão Ambiental da Faculdade Promove.

COMO SE DEFINEM TECNOLOGIAS AMBIENTAIS INDUSTRIAIS?
Definir tecnologias ambientais é algo difícil na medida em que tecnologia procura sempre promover a melhoria do processo produtivo, aumentando a produção e a produtividade. Em princípio, a melhoria tecnológica reduz o desperdício e, consequentemente, a poluição. Portanto, a necessidade de melhoria tecnológica pode ser proveniente de uma racionalização de processo ou de um estudo das fontes geradoras de poluição. A meu ver a tecnologia é ambiental quando se busca através de pesquisa, resolver um problema de geração de poluição ou quando se resolve um problema de reuso, reciclagem ou disposição final de poluentes.
COMO O SENHOR AVALIA O GRAU DE CONSCIENTIZAÇÃO DA INDÚSTRIA SOBRE A IMPORTÂNCIA DE TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E CONCEITOS DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA?
Temos duas situações: a grande empresa e a pequena e média empresa. O primeiro grupo possui um grau de conscientização maior porque a questão ambiental e vista como investimento, em virtude da complexidade e do volume de produção. O controle eficiente sobre o seu processo produtivo é uma necessidade para se evitar ao máximo a perda de processo. Assim, melhoras tecnológicas, por mais simples que pareçam, possuem impacto significativo na produção e a produtividade e na redução da poluição. Um exemplo típico foi a emissão de particulados pelas indústrias de cimento, que era desperdício de processo. A redução da emissão foi fruto de melhoria tecnológica de processo, aliada à melhoria do controle de emissões.
Já o segundo grupo só passou a mudar a sua percepção quando à mudar sua percepção quanto à necessidade de melhoria tecnológica e de gestão de processo de produção há cinco anos. Essa mudança de atitude se inicia com a necessidade de organização do processo de produção (House Keeping), de menor custo e resultados rápidos, evoluindo para substituição da obsolescência do processo.
AO SEU VER, SÃO OS FATORES POLÍTICOS, ECONÔMICOS OU SOCIAIS QUE MAIS LEVAM A INDÚSTRIA A INVESTIR EM TECNOLOGIAS AMBIENTAIS?
A legislação ambiental restritiva é um bom indutor de melhoria tecnológica. Entretanto, por ter caráter geral e parâmetros ideais, a legislação atinge de forma desigual a pequena e média empresa (PME), em relação às grandes empresas, inibindo a adequação dos primeiros.
Em geral, as PMEs atuam em mercado de comodite, são familiares, carentes de capital de giro e não possuem sobras orçamentárias para inversão em tecnologia. Desta forma, o investimento impacta sobremaneira a rentabilidade do negócio no curto prazo.
Dentro deste contexto, as políticas governamentais deveriam introduzir instrumentos econômicos de incentivo à adoção de melhorias tecnológicas, visando a redução da poluição.
ESSES FATORES DIFEREM ENTRE AS INDÚSTRIAS QUE EXPORTAM E AS INDÚSTIRAS QUE FORNECEM BENS PARA O MERCADO BRASILEIRO?
O mercado internacional é mais exigente nas questões ambientais que o mercado nacional. Há restrições para empresas que agridem o meio ambiente, e os processos de certificação ambiental são premissas básicas conforme o mercado que se deseja alcançar. A razão é diretamente proporcional; mercados com maiores potenciais oferecem maiores barreiras.
QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS PERCALÇOS NO CAMINHO DA ADOÇÃO DE TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO BRASIL?
De modo geral, o desconhecimento do tema é o maior percalço para a adoção de tecnologias mais limpas, uma vez que o empresariado sente-se distante e acredita no velho paradigma de que tecnologias ambientais são para grandes corporações. Outro ponto que deve ser considerado é a falta de financiamento ou incentivos para pesquisas tecnológicas nas empresas.
O QUE A INDÚSTRIA PRECISA DO ESTADO/GOVERNO PARA IMPLEMENTAR TECNOLOGIAS QUE PERMITEM A REDUÇÃO DE CONSUMO DE MATÉRIA-PRIMA E ENERGIA?
Maiores facilidades em relação à capacitação de crédito a juros diferenciados, assim como a redução da carga tributária para aquisição de equipamentos mais modernos, com maior eficiência e menor consumo de energia. Cito um levantamento que se encontra em processo de construção, em que o Ministério do Meio Ambiente deseja identificar equipamentos e processos industriais a serem adotados pelas empresas para viabilizar ganhos ambientais mais significativos.
QUAIS GANHOS QUE PODEM SER OBTIDOS POR EMPREENDIMETOS QUE INVESTEM EM TECNOLOGIAS AMBIENTAIS?
O principal ganho é ambiental, através da melhor organização administrativa, pela adoção de critérios de controle de processo e produção e pela redução significativa de carga poluidora dos efluentes líquidos, do volume de resíduos sólidos e das emissões atmosférica. Outro ganho é financeiro, pois com a redução da geração aumenta-se a produtividade, além de proporcionar redução de valor do investimento na implantação de medidas de controle da poluição.
COMO O SENHOR AVALIA A CAPACIDADE DO PARQUE INDUSTRIAL BRASILEIRO DE SE ADEQUAR AOS CONCEITOS DA PRODUÇÃO MAIS LIMPA?
A Produção Mais Limpa é uma metodologia que basicamente depende da vontade da alta direção das empresas estar sensíveis aos seus conceitos. Aplica-se em qualquer parque industrial, do mais simples ao mais complexo. Deste modo, observa-se um grande potencial em nível do Brasil, não apenas em Minas Gerais. O importante é a valorização do ser humano como agente articulador do processo produtivo, desenvolvendo nele uma consciência crítica que o leve a considerar a questão ambiental na empresa uma oportunidade de negócio e de promoção da melhoria da qualidade de vida.
COMO O SISTEA FIEMG ESTÁ ATUDANDO NO SENTIDO DE INCENTIVAR A ADOOÇÃO DE TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E PRODUÇÃO MAIS LIMPA?
O Sistema FIEMG possui em sua Gerência de Meio Ambiente o Núcleo de Produção Mais Limpa de Minas Gerais, que vem desde 2000 atuando na implementação desta metodologia nos Arranjos Produtivos Locais (APLs) de Minas Gerais, dentre os quais podemos destacar o pólo moveleiro de Ubá, calçadista de Nova Serrana e fundição em Divinópolis/Itaúna. Vem também realizando eventos de conscientização para os mais diversos assuntos relacionados a questão ambiental, como a realização periódica de videoconferências sobre temas ambientais, utilizando para tal a estrutura das 11 Regionais FIEMG epalhadas pelo interior do Estado.
O SENHOR PODE CITAR EXEMPLOS DE COMOA INDÚSTRIA TEM CONSEGUIDO ALIAR A LUCRATIVIDADE A PRÁTICAS DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA?
Em uma adaptação da metodologia de Produção Mais Limpa, acrescentando critérios das ISO 14.900 ISO 14.001, chamada de Boas Práticas Ambientais (BPA), implementada na indústria de laticínios, foi identificado na estação de tratamento de efluentes (ETE) de uma das empresas o consumo excessivo de produtos químicos. Evidenciou-se que esse consumo devia-se a uma inadequação de processo e à carga poluidora do efluente líquido oriundo do processo produtivo da empresa. Com a implantação do projeto de Produção Mais Limpa foi possível uma redução da ordem de 46% no uso de determinados produtos químicos na ETE. Esse resultado foi obtido com a implementação de pequenas modificações de rotinas de produção e da caracterização dos efluentes e resíduos do processo. Com o trabalho de conscientização dos empregados para que evitassem ou reduzissem os desperdícios, a metodologia utilizada foi incorporada à rotina da empresa, difundindo-se novos procedimentos que possibilitem melhorias ambientais para a empresa. Nos quadros 1 e 2 pode-se ter uma melhor idéia desta melhoria exemplificada anteriormente.
Quadro 1 - Benefícios ambientais obtidos em um laticínio após a implementação de Boas Práticas Ambientais.
Descrição dos Itens
Valores
Preservação do recurso natural através da eliminação do consumo de água na diluição do polímero.
720m3/ano
Preservação do recurso natural da eliminação do consumo de energia na diluição do polímero e dosagem de polímero.
2.429 kWh/ano
Eliminação da geração de resíduos sólidos provenientes de embalagens de polímero.
72 embalagens/mês
Quadro 2 - Ganhos econômicos obtidos em um laticínio com a implementação de Boas Práticas Ambientais
Indicadores Ambientais
Antes da implantação
Após a implantação
Consumo de produto químico por efluente tratado
2,39 kg/m3
1,26 kg/m3
Custo do tratamento do efluente associado a produtos químicos
R$ 0,98/m3
R$ 0,63/ m3
Produtos químicos utilizados na ETE
172 ton./ano
90,5 ton./ano